Como lidar com a vergonha? Um sentimento cristão que todos sentimos mas difícil de lidar.
Olá. Aqui quem fala é a vergonha que está em seu coração. Nos olhares tímidos. Na cabeça baixa. No medo e desapontamento que lhe invade o peito e a mente com ruídos de tristeza, amargura e dor.
Sou o dinheiro perdido, o vício alimentado e o abraço quebrado.
O medo do reflexo no espelho de quem ne tornei. Do afastamento cada vez mais forte do abraço do pai celestial. Sou as caminhadas e devaneios de um ser de carne que peca e erra a todo instante.
Sou a dúvida que corrói a esperança do amor. Sou a luxúria que enche do material uma casa que não é morada, enquanto os rios secam e os olhos se enchem de lágrimas.
Sou o pai que ri do filho, o filho que bate na mãe, e a mãe que renega aos próprios filhos. Sou o vento que corta a circulação de um irmão de rua exposto ao frio, sob o olhar do julgamento que estende dor e repreensão, mas não a mão.
Tento falar, mas falta voz, as lágrimas me impedem, o aperto no peito me perde a coragem de dizer, pois me invade em chuva torrencial que alaga casas e desabriga famílias de sul a norte toda essa vergonha.
Sou homem, sou mulher, sou humano. Sou finito. Quero matar dúvidas que não morrem e passam de geração em geração. Quero entender do mundo enquanto pula pela boca o coração em constante aflição. Me sinto menos, me sinto nada, perdido no mar à deriva. Meu bote não chega a terra firme, meu choro não ecoa. Me sinto um milésimo de uma gota. Em meio a tanto mar meu pai. Me afogando em palavras e sentimentos e agredindo quem apenas queria me amar. E acreditando em promessas de quem nunca poderá as profetizar. Procurando milagres que se podem parcelar. Objetificar na esperança de não doer e me perpetuar.
É assim que eu me sentia. E ainda me sinto, mas algo mudou. Passei a olhar os pequenos detalhes. Os pequenos milagres. O jeito amistoso que um cachorro se deita ao meu colo, o como um desconhecido me colocou para dentro de casa em meio a chuvas torrenciais. Em como reencontrei meus irmãos e minha mãe depois de anos afastados. De como um louva-Deus posa em minha mão e não sai de lá. Nos raios que rasgam o céu como se o pai celestial me dissesse, meu filho eu nunca fui embora apenas me coloquei mais próximo. Como eu poderia andar ao seu lado quando você precisava que eu habitasse no centro de seu peito.
Quando não sobrou nada apenas me restou a sua presença em meio ao espaço e as estrelas. Na vastidão da criação, enquanto caiam família e amigos, eu um grão de areia, ser visto e blindado pelo seu manto protetor. Não me sinto digno de seu amor. Tenho vergonha. Eu sei meu filho, sei que não se acha digno de amor. E por isso estou aqui, pois tudo que criei e cuido é digno de meu amor. Quem é o homem para me contradizer. E assim fui sentindo me invadir o espírito do criador.
Não sou perfeito, sou falho e de falhas caminho torto em escolhas certas pelo pai que me abençoou. Que me propôs no céu cumprir um destino que a carne não conhece, mas o espírito abriga, pois já estava escrito. E assim caminho na vergonha e dor, na cobrança e louvor. Me desabo em quedas d’água neste rio solene de perdão do que estava antes, no meio e depois. Sua presença onipotente e onipresente rege me em constante aprendizado de que nada sei.
Me violam a mente. Me violam o corpo, me transbordam para vazar, me humilham para castigar, me tiram a dignidade, me tiram o teto, a roupa e a comida. Mas não me tiram a sua presença. Quanto mais forte o inimigo bate, mais blindado se torna o guerreiro do criador.
Aprendo que o mundo dá voltas e capota, que homens veem e vão, mas o compromisso de proteção do meu Deus todo poderoso não se estremece a violência do mundo e do homem. Pois a ele é permitida a escolha de agredir. De alimentar a morte e a ganância. Mas lhe é permitido pela humildade do criador. Um Deus que tem a realidade na mão, mas nos permite viver a nossa. O livre arbítrio me permite ser eu, ser de quem eu quiser, mas eu escolho ser de Cristo. Somos de Cristo. Somos filhos de um pai que entende nossa dor e não faz dela pouca. Na verdade, a mede milimétricamente ao que se pode aguentar e quando o terror e o pecado nos invadem luta com seu amor infinito para nos salvar e poupar da desordem que o homem criou e só o homem pode libertar-se por sua escolha de ir ao encontro do guardião celestial.
Ao pedir perdão, ao me encontrar no chão sem nada, foi você meu criador que me guiou.
Meu nome é Alexandre de Castro Alonso, sou um produtor de cinema, um estudante que lhe escreve meu irmão, do mais sincero conselho de que você não está sozinho. De que nossa dor é a mesma. Que só Deus sabe de tudo isso que você sente em seu coração. Não existe aflição maior ou menor. Sua dor é enorme, mas apenas um grão de areia aos milagres que o pai vai trazer em sua vida.
Deus lhe criou com todos os pontos e reticências. Pois ele não cria nenhum que seja igual. Seu trabalho é em escala industrial, mas seu toque divino é de artesão. Carpintaria na madeira com falhas e desenhos únicos.
São diversas dores, aflições, crenças e esperanças, mas apenas um criador, que habita em seu coração. O homem não dita, não interfere em seu caminho, pois quem o escreveu; criou o homem e as estradas que percorremos é ele, nosso guardião.
E ao final vai estar lá, para te receber, de braços abertos.
Amém!